Entrevista com Fábio Trummer, vocalista da banda Eddie

Com o violão na mão e ao lado dos outros integrantes da Eddie, Fábio Trummer

A banda Eddie é conhecida pelo original estilo olindense de se fazer música. Com quatro discos lançados e shows realizados no Brasil inteiro, a banda vive um de seus melhores momentos. Com o lançamento do último cd, o Carnaval no Inferno, o grupo sentiu uma forte projeção e aceitação do público. O vocalista da banda, Fábio Trummer, bateu um papo exclusivo com a gente para falar um pouco sobre a vida da Eddie.

Marcus Fernandes - A banda Eddie é um símbolo da música pernambucana, e também uma das precursoras do movimento MangueBeat, ao lado de atrações como Chico Science e Nação Zumbi e Mundo Livre S/A. Como foi que vocês do grupo se conheceram e decidiram formar uma banda?
Fábio Trummer - Não sei se é a Eddie é um símbolo, mas usamos elementos da musica pernambucana e dos costumes do nosso povo, vocabulário, tradições e etc. Sou o caçula dessa geração que pensou o Mangue bit e estávamos sempre trocando informações e equipamentos pra ensaiar, tocar e se divertir, bem como vinil, fita cassete, fita de VHS e outras sobre o universo musical do mundo todo. Esta galera que está na banda hoje eu conheci depois disso. Da formação original eu sou o único que restou. Começamos cedo, ainda no colégio, e a maioria das pessoas não se tornou músicos de profissão. Durante este tempo fui chamando os caras que tocam e fazem a Eddie comigo. Temos nove anos desta formação atual.
Marcus Fernandes - Nestes 21 anos de banda Eddie e como músicos de Pernambuco, o que vocês mais sentiram de evolução no cenário musical pernambucano?
Fábio Trummer -Melhorou muita coisa. A atenção do público para a musica autoral, a disponibilidade de equipamentos bons, a atenção da mídia, leis de incentivo a cultura, melhores profissionais na área técnica, nos palcos, estúdios, e lojas de equipamentos, além de investimentos do poder publico, que usa cultura como vitrine do estado. A única coisa que não melhorou foi a iniciativa privada. Esta continua cega para a vocação do estado. Houve um amadurecimento musical principalmente dos músicos da geração dos 90, da musicalidade própria, da qualidade das apresentações e uma produção das maiores que se tem notícias nos cinco continentes. Muita gente gravando e tocando numa diversidade absurda.
Marcus Fernandes - E durante estes anos de estrada, qual a história encima do palco que ficou marcada na memória da banda?
Fábio Trummer - Uma vez a gente estava tocando onde hoje ficam as torres aberração do bairro do Recife, num antigo armazém, quando caiu uma chuva destas de acabar com cidades ribeirinhas e o teto do palco abriu e inundou tudo. Continuamos tocando ainda pôr alguns minutos até o choque terminar com nossa alegria. Foi um milagre ninguém ter passado desta para outra vida.
Marcus Fernandes - Como você observa a atual cena musical Pernambucana?
Fábio Trummer - Tenho bons olhos pra atual cena. Acho que somos parte dela e vejo uma galera nova preocupada em evoluir sem negar os acertos das gerações anteriores e acrescentando novas maneiras de se fazer festivais, shows e música.
Marcus Fernandes - No ponto de vista da crítica e do público da banda Eddie, como está sendo a repercussão do atual disco da banda, o Carnaval no Inferno?
Fábio Trummer - A critica foi muito positiva e o público abraçou de vez a banda e sua musicalidade. Acho que conseguimos afirmar a música popular que sempre buscamos fazer, sem ter que mudar o que achamos bom no universo da música urbana no planeta.
Marcus Fernandes - Qual a impressão que vocês tem do público pernambucano? E da produção musical pernambucana?
Fábio Trummer - O público de Pernambuco é premiado com uma situação histórica e geográfica que permitiu esta diversidade musical incrível e com qualidade. Para quem se apresenta por estas terras, o prêmio é um público de cabeça aberta e quase sempre sem preconceitos, que não costuma se fechar nos guetos que a indústria da musica oferece como atitude.
Marcus Fernandes - A banda Eddie tem quatro discos gravados e uma bagagem musical muito grande. Mas ainda assim planejam lançar algum DVD em breve?
Fábio Trummer - Temos quatro discos lançados, Sonic Mambo, Original Olinda Style, Metropolitano e Carnaval no Inferno. Adoraríamos gravar um DVD, pois a banda está num momento ótimo e seria genial, mas é caro e eu não tenho o menor saco de correr atrás de leis que possam viabilizar a grana. Somos uma banda independente e pagamos com o nosso trabalho todas as gravações que fazemos.
Marcus Fernandes - Existe algum momento divertidíssimo no palco? Alguma música que não pode deixar de ser tocada, porque senão o público enlouquece?
Fábio Trummer -  Existem músicas que as pessoas adoram e pedem muito, mas temos sempre uma linha de condução do repertorio que segue um conceito pré estabelecido e se acharmos que não devemos tocar essa ou aquela não tem quem faça a gente fazer o contrário. Os nomes que chamam a gente por não ter tocado são uma mistura de carinho e puxão de orelha não ofende. A diversão faz parte do nosso show. Mesmo nos temas sérios o publico se solta e se diverte muito. Atualmente usamos umas brincadeiras de blocos do carnaval de Olinda e Recife e o público vai ao delírio.
Marcus Fernandes - Pouca gente sabe, mas a música “Quando a Maré Encher” é de sua autoria. Como foi escrever uma música que se tornou praticamente um dos hinos de Pernambuco?
Fábio Trummer - Foi fácil. Rogermam apareceu com uma base de baixo, começamos a tocar e ela me veio na cabeça sem fazer força. Simplesmente saiu já com a melodia e tudo. Não é sempre assim.
Marcus Fernandes - Indique cinco bandas de Pernambuco para que os leitores possam conhecer o que há de bom no nosso estado:
Fábio Trummer - Mombojó, Catarina de Jah, Academia da Berlinda, Siba e Fuloresta do Samba e Zé Cafofinho e suas Correntes
Marcus Fernandes - Deixe um recado para os leitores e para todos os pernambucanos:
Fábio Trummer - Leitores da Click Rec, vamos ser ouvintes da boa música produzida na nossa terra. Abraço a todos.

(Foto: Gilvan Barreto)